quinta-feira, 4 de junho de 2009

Cesário Verde

“Além de ser uma réplica do realismo irónico queirosiano (…) o realismo lírico de Cesário Verde será o seu esforço de autenticidade anti-retoricista, com versos magistrais, salubres e sinceros.”

Considerado um autor de referência do século XX, Cesário Verde apresenta-se como um poeta versátil que se enquadra em quatro estilos literários:
Realismo: Cesário Verde dá especial importância ao mundo externo e à materialidade dos objectos, apreendendo os pormenores constituintes das aparências do real e deixando-se consumir por eles. Uma das características da sua obra é a selectividade na medida em que cada poema corresponde a um tema concreto da realidade - a dureza do trabalho («Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»); a doença e a injustiça social («Contrariedades»); a imoralidade das «impuras», a desonestidade do «ratoneiro» e a «miséria do velho professor» em «O Sentimento dum Ocidental».
Modernismo: descontextualizado e reformista no que diz respeito ao período literário, é deste movimento que surge posteriormente a si, que Cesário mais se aproxima. O realismo e o naturalismo são suavemente abandonados apenas por causa da subjectividade que é imposta na visão e que Cesário faz questão de focar.
Impressionismo: o poeta assume-se como pintor na medida em que descreve tal e qual um quadro a realidade. A sua poesia expressa as percepções sensoriais que o mundo exterior em si desperta. Para pintar o seu quadro poético, Cesário utiliza diversos recursos estilísticos entre eles a hipálage e a adjectivação dupla/tripla (com a qual revela não só o que é visível, mas também a impressão do que disso se pode tirar).
Visto como realista, Cesário nunca levaria as suas hipérboles (encaradas como ironias, então) à letra pelo que se tornaria um facto descabido e inimaginável - “desejo absurdo de sofrer”.
O autor utiliza a ironia reflexiva e criticamente de modo a refutar os padrões e regras do período histórico em que viveu. E talvez seja esta a razão pela qual traça um caminho rumo ao modernismo. A ironia é ainda utilizada de forma a desprezar o sentimentalismo – este desprezo do sentimento constitui uma das características do parnasianismo, movimento literário também seguido por Cesário Verde que declara que a descrição da realidade deve ser feita atendendo unicamente à estética, à beleza – daí dizer-se que as obras de Cesário são cromáticas, pois é a cor e a luz que se podem assumir como “personagens” principais. Paralelamente ao seu contemporâneo Eça de Queirós, o poeta lisboeta faz diferentes apreensões do real, tão diferentes que se podem contradizer e originar a ironia que pode tomar uma função crítica ou acrítica).
O seu esforço de “autenticidade anti-retoricista” passa por, como a própria expressão indica, distanciar a “arte de bem falar”, a retórica tradicional de origem grega. Cesário Verde manifestava versos salubres e sinceros, versos limpos e sensatos, livres de fantasias, ornamentos e pormenores que enriqueceriam desnecessariamente os versos. Porém, e apesar da simplicidade que Cesário pretendia incutir aos seus poemas, por causa do impressionismo pictórico que tanto idolatrava, acabou por submetê-los à difusão artística imposta na vertente literária.

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